Projeto de conservação de botos inicia ações no baixo Tapajós
/Liderada pela Sapopema em parceria com o WWF-Brasil, iniciativa integra ações de pesquisa para mitigação de conflitos entre humanos e botos na região do rio Tapajós, nos municípios de Santarém e Belterra
O risco de extinção dos botos na região do baixo Tapajós tem preocupado organizações, que têm se mobilizado para planejar ações de mitigação de conflitos entre humanos e golfinhos de rios amazônicos (botos cor-de-rosa e tucuxi). De iniciativa da Sapopema e do WWF-Brasil, as atividades incluem oficinas de planejamento de ações; testes de controle com redes de espera, de atratividade e práticos com pescadores; além de entrevistas com pescadores voluntários e devolução das informações do projeto à comunidade.
Concentrado na comunidade Prainha I, região da Floresta Nacional do Tapajós, município de Belterra (PA), o projeto lançado em 2023 realizou em março a primeira oficina de conflitos e coexistência entre humanos e botos na Amazônia. O evento contou com a participação de lideranças de pescadores/pescadoras, extrativistas, indígenas, ONGs, universidades, institutos de pesquisa, e do poder público dos municípios envolvidos diretamente no processo.
Na ocasião, os participantes discutiram as formas de interação entre humanos e os botos e seus impactos , utilizando como método a abordagem de sistemas complexos de relações. O responsável pela facilitação da oficina foi o professor/pesquisador doutor Sílvio Marchini (EzalQ/USP - CPSG-IUCN), apoiado pela equipe técnica da Sapopema.
Ameaças e mapeamento de soluções
O primeiro mapeamento realizado com os pescadores indicou que a pressão pesqueira pelos grandes barcos de pesca têm sido uma das principais ameaças, pois contribuem para a escassez do peixe e o aumento da competição e conflito entre botos e pescadores locais pelo recurso. Dionildo Farias, pescador da comunidade Prainha I, ressaltou que elas (barcos geleiras) são as maiores responsáveis pela prática: “As geleiras têm no mínimo 15 bajaras mil metros de malhadeira, o que tem contribuído para o abate do boto”.
Mariana Paschoalini, bióloga especialista em golfinhos de rios amazônicos e consultora do WWF-Brasil, destacou, além da pesca, as muitas ameaças ao boto no baixo Tapajós, como o garimpo e as hidrelétricas, em um complexo sistema Amazônico, o que dificulta os trabalhos de pesquisa e de conservação da espécie. Em relação ao garimpo, destacou que através de coletas de amostras de diferentes regiões da Amazônia, como Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia, foi possível perceber que os animais estão contaminados por mercúrio e apresentam níveis muito superiores àqueles permitidos pela OMS - Organização Mundial da Saúde.
Para a pesquisadora, o trabalho em conjunto com organizações e a comunidade local é fundamental para pensar, aprender e estabelecer estratégias para garantir a proteção desses animais de modo a promover a coexistência com seres humanos. Paschoalini enfatizou que uma das possibilidades é implementar o turismo de observação, que pode aliar a renda através do Turismo de Base Comunitária e preservar a espécie. “A comunidade necessita se apropriar, se sensibilizar e pode mudar de olhar sobre o animal”.
Próximos passos
Para a coordenadora da Sapopema, Wandicleia Lopes, o projeto cumpre um papel formativo/educativo junto às pescadoras e aos pescadores ao propor alternativas para solucionar os problemas causados pelo ‘furto’ dos peixes pelos botos, que danificam as malhadeiras. “Os próximos passos do projeto vão possibilitar usar a tecnologia em favor da defesa do meio ambiente. Um equipamento sonoro vai afastar os botos das redes de pesca. E a próxima etapa é realizar os testes”, esclarece.
Os pingers são equipamentos que emitem sons de alta frequência. Ao serem instalados nas redes de pesca, funcionam como repelentes acústicos de golfinhos.
Neriane Nascimento, coordenadora técnica do projeto pela Sapopema, esclarece que a equipe está apenas aguardando licença do ICMBio para iniciar os testes. “Com essa licença, faremos testes piloto de cinco dias com o objetivo de entender o procedimento, e ver os pontos melhores para colocar nas redes. A ideia é fazer testes intercalados com a pesca de mapará e jaraqui que são as mais importantes para os pescadores de Prainha I”, conta.
Sobre a Sapopema
A Sociedade Para Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente é uma ONG atuante na região do baixo Amazonas há mais de vinte anos. Criada por professores, têm em seu corpo técnico profissionais interdisciplinares que defendem a pesquisa para a conservação da biodiversidade. Tem como missão promover a formação educacional para a cidadania por meio da conscientização, em nível formal e informal, a capacitação para o ordenamento, gestão e a conservação de recursos naturais, o manejo sustentável dos recursos naturais para a geração de renda, visando a melhoria da qualidade de vida da população amazônida.
Sobre o WWF-Brasil
O WWF-Brasil é uma ONG brasileira que há 26 anos atua coletivamente com parceiros da sociedade civil, academia, governos e empresas em todo país para combater a degradação socioambiental e defender a vida das pessoas e da natureza. Estamos conectados numa rede interdependente que busca soluções urgentes para a emergência climática. Conheça: www.wwf.org.br