Dois mil filhotes de tartarugas são soltos em cerimônia na comunidade Coroca, Rio Arapiuns
/Iniciativa comunitária se destaca com o turismo de base comunitária com artesanato e visita às tartarugas
Sob muita chuva, centenas de visitantes participaram no último sábado (15/02) da soltura de mais de duas mil tartarugas na comunidade Coroca, situada às margens do Rio Arapiuns. A iniciativa, desenvolvida há cerca de trinta anos, tem contribuído para a conservação ambiental e o fortalecimento socioeconômico local, a partir da integração com o turismo de base comunitária.
A ação de soltura é parte do processo de reprodução e acompanhamento dos quelônios, que são criados em um lago comunitário antes de serem devolvidos ao rio. O projeto teve início em 1992, com a chegada do padre alemão José Gross, idealizador da proposta. No final da década de 1990, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) doou três mil filhotes à comunidade. Em 2000, uma enchente comprometeu parte da estrutura de contenção do lago, e aproximadamente 90% dos animais retornaram ao rio. Os quelônios remanescentes passaram a se reproduzir em 2019, resultando no nascimento de novos filhotes a cada ciclo reprodutivo.
Dados da Associação dos Produtores Rurais Criadores de Peixe e Extrativista da Comunidade Coroca (Aprusipesc) indicam que, em 2019, cinco fêmeas colocaram cerca de 200 ovos. Em 2020, quatro fêmeas geraram 150 filhotes. Nos anos seguintes, o número de matrizes aumentou: 30 fêmeas em 2021 e 56 em 2022, resultando, respectivamente, em 2.910 e 2.970 filhotes. Em 2023, devido à estiagem e às altas temperaturas, houve redução na eclosão, com 1.900 filhotes nascidos e 1.400 devolvidos à natureza. Para 2024, a expectativa é soltar 2.000 quelônios.
O turismo comunitário tem se consolidado como a principal fonte de renda da comunidade, gerando cerca de 90% dos recursos locais. Visitantes de diferentes estados e países acompanham as atividades de manejo e participam de eventos como a soltura dos filhotes. O contato direto com o projeto sensibiliza o público e fortalece a consciência ambiental.
Além da preservação dos quelônios, a comunidade Coroca realiza outras atividades como a meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), piscicultura e produção artesanal. Essas práticas, associadas ao turismo, têm garantido a sustentabilidade econômica e a preservação ambiental.
Luziete da Silva, diretora social Aprusipesc, comentou sobre a importância dos projetos: “Pra toda pra toda a região, né, até pra todo o nosso Brasil, porque recebemos pessoas que vêm nos visitar, vem conhecer. Os nossos projetos são de vários estados e países diferentes, então não é só pra nós hoje a comunidade coroca não vive só pra ela e sim vive abertamente, preservando a natureza para o mundo”.
A Sapopema que há três anos recebeu o convite para apoiar a estratégia com assistência técnica, destacou como o engajamento comunitário tem sido fundamental para o sucesso da experiência: “todo esse trabalho que tem sido feito durante quase trinta anos, ele tem fortalecido a comunidade em vários aspectos, tanto na parte social e econômica”, pontuou a bióloga, responsável pelo acompanhamento, Poliane Batista.